Coimbra, Dec. 4, 1970
Dear Maria Teresa,
Pax Christi,
A nossa
Madre recebeu a sua carta, e pede desculpa de não responder
pessoalmente; mas não lhe é possível neste momento, em que está com
tanto que fazer, por causa da próxima fundação do novo Carmelo de Braga.
Por este motivo, entregou-me a carta, para que responda eu. É o que
venho fazer.
A nossa
Madre não pode dar a licença que a Maria Teresa deseja. Mas também não é
necessária. Eu não devo nem posso pôr-me em evidência. Devo permanecer
em silêncio, na oração e na penitência. É a maneira como melhor posso e
devo auxiliar. É preciso que todo o apostolado tenha, como base, este
fundamento; e esta é a parte que o Senhor escolheu para mim; orar e
sacrificar-me pelos que lutam e trabalham na vinha do Senhor, e pela
extensão do seu Reino.
É por este
motivo que o meu nome não deve aparecer. Em vez dele, é muito mais
eficaz que se sirva do Nome de Nossa Senhora, sugerindo o movimento como
«Cumprimento» da Mensagem, apresentando como argumento a insistência
com que
Nossa
Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o
mesmo em todas as Aparições, como que prevenindo-nos para que, em estes
tempos de desorientação diabólica, nos não deixemos enganar por falsas
doutrinas, diminuindo na elevação da nossa alma para Deus, por meio da
oração.
Por certo
que não é preciso que durante a celebração do Santo Sacrifício da Missa,
aquele em que se deva rezar o Terço: Tempo deve haver para a Santa
Missa, e tempo para rezar o Terço: Podemos e devemos tomar parte numa
coisa, sem deixar a outra. O Terço é, para a maioria das almas que vivem
no mundo, como que o pão espiritual de cada dia; e privá-las ou
tirar-lhes esta oração, isto é, diminuir nos espíritos o apreço e a boa
fé com que a rezavam, é, na parte espiritual, o mesmo ou mais ainda;
tanto mais quanto a parte espiritual é superior à material. Digo: É como
se na parte material privassem as pessoas do pão necessário à vida
física.
Infelizmente,
o povo, na sua maioria, em matéria religiosa, é ignorante e deixa-se
arrastar por onde o levam. Daí, a grande responsabilidade de quem tem a
seu cargo conduzi-lo; e todos nós somos condutores uns dos outros,
porque todos temos o dever de ajudar-nos mutuamente, e andar pelo bom
caminho.
Além do que
tenho dito, será bom que à oração do Terço se dê um sentido mais real
que aquele que se lhe tem dado, até aqui, de simples oração «mariana».
Todas as orações que rezamos no Terço são orações que fazem parte da
Sagrada Liturgia; e, mais que uma oração dirigida a Maria, é dirigida a
Deus: — O Pai-Nosso foi-nos ensinado por Jesus Cristo, dizendo: «Rezai,
pois, assim: Pai Nosso, que estais nos Céus...» — «Glória ao Pai, ao
Filho, ao Espírito Santo ...» é o hino que cantaram os Anjos enviados
por Deus para anunciar o nascimento do Seu Verbo, Deus feito homem. — A
Ave-Maria, bem compreendida, não é menos uma oração dirigida a Deus:
«Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum»: Eu Te saúdo, Maria, porque
Contigo está o Senhor! Estas palavras são, com certeza, ditadas pelo Pai
ao Anjo, quando O enviou à terra, para que com elas saudasse a Maria.
Sim! O Anjo
veio dizer, a Maria, que Ela era cheia de Graça, não por Ela mas porque
com Ela estava o Senhor! — «E Bendita sois Vós entre as mulheres, e
Bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus»: Estas palavras, com que
Isabel saudou a Maria, foram-Lhe ditadas pelo Espírito Santo, diz-nos o
Evangelista: «Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, ... ficou cheia do
Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: Bendita és Tu entre as
mulheres, e Bendito é o fruto de Teu ventre». Sim! Porque esse fruto é
Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem!
Assim, esta
saudação é um louvor a Deus: És Bendita entre as mulheres, porque é
Bendito o fruto do Teu ventre; e porque Tu és a Mãe de Deus feito Homem,
— em Ti adoramos a Deus como em primeiro Sacrário, no qual o Pai
encerrou o Seu Verbo; como primeiro Altar, o Teu Regaço; primeira
Custódia, os Teus braços, diante dos quais se ajoelharam os Anjos, os
pastores e os reis, para adorar o Filho de Deus, feito Homem! E porque
Tu, ó Maria, és o primeiro Templo vivo da Santíssima Trindade, onde mora
o Pai, o Filho e o Espírito Santo, «o Espírito virá sobre Ti e a força
do Altíssimo estenderá sobre Ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o
Santo, que vai nascer, há-de chamar-se Filho de Deus» (Lc. 1, 35). E já
que és um Sacrário, uma Custódia, um Templo vivo, morada permanente da
Santíssima Trindade, Mãe de Deus e Mãe nossa, —«roga por nós, pobres
pecadores, agora e na hora da nossa morte».
Quem poderá
negar que isto é uma oração e um louvor dirigido a Deus?! Será mais que
para dirigir a Deus os nossos louvores, as nossas adorações, as
súplicas, nos ajoelhemos diante de altares de madeira, pedra ou metal,
ou de custódias douradas, insensíveis, incapazes de rogar por nós?!
Certo é que
São Paulo diz que há um só Medianeiro junto do Pai. Sim! Como Deus, há
um só, que é Jesus Cristo. Mas o mesmo Apóstolo pede que roguem por ele e
recomenda que roguemos uns pelos outros: Poderia, então, o Apóstolo não
crer que a oração de Maria não fosse tão agradável a Deus, como a
nossa?! É a desorientação diabólica que invade o mundo e engana as
almas! É preciso fazer-lhe frente; e para isso pode servir-se do que
aqui lhe digo. Mas como coisa sua, sem dizer o meu nome; como coisa que
lhe sai ao correr da pena. E, na verdade, sua é, porque, na qualidade de
membros que somos do Corpo Místico de Cristo, tudo é nosso, porque tudo
é da Cabeça, Cristo Jesus.
E fico no
meu lugar, rezando por si, por todos aqueles que consigo vão trabalhar,
para que seja uma campanha que dê muita glória a Deus, leve muita luz e
graça às almas, paz à Santa Igreja e ao mundo ensanguentado em guerras.
Talvez
também fosse bom apresentar a campanha, não só como cumprimento da
Mensagem, mas também como campanha de oração e penitência pela paz do
Mundo, da Santa Igreja e de Portugal nas Províncias Ultramarinas. E que
Portugal, que é tão devoto da Eucaristia e de Maria, seja o primeiro a
reconhecer que a oração do Terço não é somente uma oração Mariana, mas
também Eucarística. E, por isso, nada deve impedir que se possa rezar
diante do Santíssimo Sacramento. Em prova disto está que o Santo Padre
Pio XI havia concedido indulgência plenária a quem rezasse o Terço
diante do Santíssimo; e recentemente foi de novo concedida a mesma
indulgência por Sua Santidade Paulo VI.
É, pois,
preciso rezar o Terço, nas Cidades, nas Vilas e nas Aldeias, pelas ruas,
pelos caminhos, de viagem ou em casa, nas igrejas e capelas! É a oração
acessível a todos, e que todos podem e devem rezar. Há muitos que
diariamente não assistem à oração litúrgica da Santa Missa; Se não rezam
o Terço, que oração fazem?! E, sem oração, quem se salvará ?! —«Vigiai e
orai para não entrardes em tentação».
É preciso,
pois, orar, e orar sempre. Isto é, que todas as nossas actividades e
trabalhos sejam acompanhados de um grande espírito de oração, porque é
na oração que a alma se encontra com Deus; e é nesse encontro que se
recebe graça e força, ainda mesmo quando ela é acompanhada de
distracções. Ela leva sempre às almas um aumento de Fé, ainda que não
seja mais que a recordação momentânea dos mistérios da nossa Redenção,
lembrando o Nascimento, Morte e Ressurreição do nosso Salvador; e Deus
saberá descontar e perdoar o que toca à humana franqueza, ignorância e
pouquidade.
Quanto à
repetição das Ave-Marias, não é como querem fazer crer que seja uma
coisa antiquanda. Todas as coisas que existem e foram criadas por Deus,
se mantêm e conservam por meio da repetição, continuada sempre, dos
mesmos actos. E ainda a ninguém se ocorreu chamar antiquado ao sol, lua,
estrelas, aves e plantas, etc., porque giram, vivem e brotam sempre do
mesmo modo! E são bem mais antigos que a reza do Terço! Para Deus, nada é
antigo. — São João diz que o Bem-aventurados, no Céu, cantam um cântico
novo, repetindo sempre; Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos! É
novo, porque, na luz de Deus, tudo aparece com novo brilho!
Um grande abraço da sempre em união de orações.
Irmã Lúcia
i.c.d.
***
J.M.
Coimbra, 29-5-1970
Querida Maria Teresa:
Pax Christi
Respondo às
suas cartas no dia do aniversário da Ordenação do Santo Padre. Hoje é
tudo por Sua Santidade. Que Nossa Senhora seja a portadora das nossas
pobres e humildes orações.
Agradeço as
suas cartas e os recortes... Gostei muito de ver como já estão a
recuar... Bendito seja Deus! E continuamos a rezar para que tudo se
normalize.
A lista
sobre o «cancro» é horrível! Como os partidários do demónio trabalham
para o mal, e não têm medo de nada! Nem de ficar mal colocados, nem de
perder! Andam sempre para diante, com ousadia destemível! E só nós
havemos de acobardar-nos?! Acaso Deus pode menos que o demónio?! Ou
temos nós menos Fé em Deus e no Seu poder?! — É preciso andar para
diante sem medo e sem receio. Deus está connosco, e Ele há-de vencer.
Deus queira
que a entrevista com o Sr. Arcebispo de Mitilene tenha corrido bem, e
que Sua Ex.a não seja um dos medricas... Penso que o melhor seria
fazerem as coisas com o conhecimento de Suas Ex.cias, mas sem que tomem
responsabilidade, (como se não soubessem), isto é, para se evitar o
inconveniente dos medos ... Depois, em vendo o êxito, então já podem
declarar-se a tomar parte.
Claro que a
parte secular e feminina pode iniciar muita coisa que a sua dignidade,
em princípio, pode hesitar. Mas nós sabemos que Deus e Nossa Senhora
está connosco, e, por isso, não temos medo. Caso encontre dificuldades,
penso que podia dizer isto, ou apresentar o problema sob este ponto de
vista: como se não soubessem e se tratasse simplesmente de iniciativa de
mulheres. Também foi assim que se conseguiu iniciar a Peregrinação
Mundial da Imagem Peregrina. Os princípios são sempre muito difíceis,
por causa dos medos... Depois, estes desvanecem-se. Todos ajudam e tomam
parte.
Quanto ao
que me diz do Sacerdote que está em Fátima, penso também que não deve
ter medo. Nós devemos pôr a nossa confiança em Deus e na protecção de
Nossa Senhora. Nós somos apenas instrumentos muito fracos nas Suas Mãos,
e de que Eles se servem para a Sua Glória; mas não deve o medo
impedir-nos de servir para o que Eles quiserem.
Penso que
não há-de ser nada difícil conseguir que o Santo Padre, na Televisão,
reze o Terço com o Mundo. Depois de tudo bem organizado, já se vê. E se
fosse em Fátima?! — Vamos trabalhar, e eu aqui, no meu convento, a
rezar!
Um grande abraço da sempre dedicada e em união de orações.
Irmã Lúcia, i.c.d.
P.E. —
Talvez que esse Sr. Padre, de quem me fala na sua carta, pudesse
iniciar, na Rússia, a reza do Terço, escrevendo ao Patriarca de Moscovo.
***
J.M.J.T.
Coimbra, 16-9-1970
Querida Madre Martins:
Pax Christi
Recebi a sua
carta, que muito agradeço. Há muito que não recebia as suas notícias; e
nem sabia bem como se encontrava de saúde, nem como tinha ficado depois
da operação. Pelo que me diz, vejo que deveu ficar a sofrer bastante! É
a penitência que o Senhor agora lhe pede; e estas, que Ele nos envia,
são as mais custosas. Mas também são as que mais nos unem a Ele, que foi
o Mártir das Dores.
Em também
não tenho passado lá muito bem do coração, da vista, etc.; mas é preciso
quem complete em si o que falta à Paixão de Cristo. É preciso que os
Seus membros sejam um com Ele, pela dor física e pela angústia moral...
Pobre Senhor, que nos salvou com tanto amor, e tão pouco compreendido é!
Tão pouco amado! Tão mal servido! É doloroso ver tanta desorientação, e
em tantas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade!...
Temos nós,
tanto quanto nos seja possível, que procurar reparar, por uma união cada
vez mais íntima com o Senhor, identificar-nos com Ele, para que Ele
seja, em nós, a luz do mundo mergulhado nas trevas do erro, da
imoralidade e do orgulho. Faz-me pena ver o que me diz, do que também já
por aí se passa!
... É que o
demónio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de bem, e andam cegos a
guiar outros cegos, como nos diz o Senhor no seu Evangelho; e as almas
vã-se deixando iludir.
De boa
vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja,
pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas
que andam tão iludidas e tão transviadas! Pelos nossos Irmãos
separados: Que Deus a todos dê luz e os traga ao bom caminho, — ao
caminho da Verdade, que é Jesus Cristo.
Quanto ao
que me diz da reza do Terço é uma grande pena! Porque a oração do
Rosário ou Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais
nos une com Deus, pela riqueza das orações de que se compõe, todas elas
vindas do Céu, ditadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo.
A Glória,
que rezamos em todos os mistérios, foi ditada pelo Pai aos Anjos, quando
os enviou a cantá-la junto do Seu Verbo recém-nascido, e é um hino à
Trindade.
O Pai-Nosso foi-nos ditado pelo Filho, e é uma oração dirigida ao Pai.
A Ave-Maria
é, toda ela, impregnada de sentido Trinitário e Eucarístico: As
primeiras foram ditadas pelo Pai ao Anjo, quando O enviou a anunciar o
mistério da Encarnação do Verbo.
Ave-Maria,
cheia de graça, o Senhor é convosco»: Sois cheia de graça porque em Ti
reside a fonte da mesma Graça. É pela Tua união com a Santíssima
Trindade, que Tu és cheia de graça.
Movida pelo
Espírito Santo, disse Santa Isabel: «Bendita sois Vós, entre as
mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus»: Se sois bendita, é
porque é bendito o fruto do vosso ventre, Jesus.
A Igreja,
também movida pelo Espírito Santo, acrescentou: «Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte»: Isto é
também uma oração, dirigida a Deus através de Maria: Porque sois Mãe de
Deus, roga por nós.
É oração
trinitária, sim, porque Maria foi o primeiro Templo vivo da Santíssima
Trindade: «O Espírito Santo descerá sobre Ti, — O Pai Te cobrirá com a
Sua sombra, — E o Filho, que de Ti nascer, será chamado o Filho do
Altíssimo».
Maria é o
primeiro Sacrário vivo onde o Pai encerrou o Seu Verbo. O Seu Coração
Imaculado é a primeira custódia que O guardou. O Seu regaço e os Seus
braços foram o primeiro altar e o primeiro trono sobre o qual o Filho de
Deus, feito homem, foi adorado. — Aí O adoraram os Anjos, os Pastores e
os sábios da terra. Maria é a primeira que tomou em Suas mãos, puras e
imaculadas, o Filho de Deus; o conduziu ao Templo, para oferecê-Lo ao
Pai, como vítima pela salvação do mundo.
Assim, a
oração do Terço é, depois da Sagrada Liturgia Eucarística, a que mais
nos introduz no mistério íntimo da Santíssima Trindade e da Eucaristia; a
que mais nos traz ao espírito os mistérios da Fé, da Esperança e da
Caridade.
Ela é o pão
espiritual das almas; Quem não ora, definha e morre. É na oração que nos
encontramos com Deus, e é nesse encontro que Ele nos comunica a Fé, a
Esperança e a Caridade: virtudes estas sem as quais não nos salvaremos.
O Terço é a
oração dos pobres e dos ricos, dos sábios e dos ignorantes; Tirar às
almas esta devoção, é tirar-lhes o pão espiritual de cada dia. O Terço é
a que sustenta a pequenina chama da Fé, que ainda de todo se não apagou
em muitas consciências. Mesmo para aquelas almas que rezam sem meditar,
o simples acto de tomar o Terço para rezar é já um lembrarem-se de
Deus, do Sobrenatural. A simples recordação dos mistérios, em cada
dezena, é mais um raio de luz a sustentar, nas almas, a mecha que ainda
fumega.
Por isso o
Demónio lhe tem feito tanta guerra! E o pior é que tem conseguido iludir
e enganar almas cheias de responsabilidade, pelo lugar que ocupam!
... São
cegos a guiar outros cegos!... E querem apoiar-se no Concílio! E não vêm
que o Sagrado Concílio ordenou que se conservem todas as práticas que
no decorrer dos anos se vêm praticando em honra da Imaculada Virgem Mãe
de Deus; e que a oração do santo Rosário, ou Terço é uma das principais a
que, em face do ordenado pelo Sagrada Concílio e pelo Sumo Pontífice,
estamos obrigados; isto é, devemos conservar. Eu tenho uma grande
esperança: que não virá longe o dia em que a oração do santo Rosário e
Terço sejam declaradas oração litúrgica. Sim, porque toda ela faz parte
da Sagrada Liturgia Eucarística. Oremos, trabalhemos, sacrifiquemo-nos e
confiemos que —
«Por Fim, O Meu Imaculado Coração Triunfará»!
Adeus, minha
querida Irmã. Ainda cá está a imagem do Menino Jesus, que pertence à
igreja do Santo Nome de Deus. Quando quiser, pode vir buscá-la.
Um grande abraço para a querida Madre Cunha Matos e para si, da sempre em união de orações.
Não conheço o livro de que me fala.
Irmã Lúcia i.c.d.
***
(Dois excertos de duas cartas)
...«O que alguns desorientados têm propalado contra a reza do Terço é falso.
Mais antiga
que a reza do Terço é a luz do sol, e eles não querem deixar de
beneficiar do seu brilho e calor; mais antigos são os salmos, e eles,
assim como as orações que constituem o Terço fazem parte da Sagrada
Liturgia.
A repetição
das Ave-Maria, Pai-Nosso e Glória, é a cadeia que nos eleva até Deus e a
Ele nos prende, dando-nos a participação da Sua Vida divina em nós, —
como a repetição dos pedacinhos de pão, de que nos alimentamos, nos
sustenta a vida natural; e não chamos a isso coisa antiquada!
A desorientação é diabólica! Não se deixe enganar» (29-12-1969).
... « ...
Que esse seu apostolado, assim como o de todos os nossos Irmãos e Irmãs,
Missionários, seja para as almas a luz da Fé, que as guie pelo caminho
da Verdade, da Esperança e do Amor! — Aquela luz de que nos fala o
Senhor, no Seu Evangelho; «Vós sois a luz do mundo e o sal da terra».
É preciso,
para isto, não se deixar arrastar pelas doutrinas dos desorientados
contestadores... A campanha é diabólica. Precisamos fazer-lhe frente,
sem meter-nos em conflitos: — Dizer, às almas, que agora, mais do que
nunca, precisamos de orar por nós e pelos que são contra nós!
Precisamos
de rezar o Terço todos os dias. É a oração que Nossa Senhora mais
recomendou, como que prevenindo-nos para estes dias de campanha
diabólica em contra! Sabe o demónio que é pela oração que havemos de nos
salvar; e arma-lhe a campanha em contra, para nos perder. Agora que vai
começar o mês de Maio, reze com o povo o Terço todos os dias. Não tenha
receio de expor o Santíssimo e rezar na Sua presença o Terço.
É falso o
que dizem, de que não é litúrgico: As orações do Terço, todas elas fazem
parte da Santa Liturgia; e, se não desagradam a Deus, quando as rezamos
celebrando o Santo Sacrifício, também Lhe não desagradam se as rezamos
na Sua presença, quando está exposto à nossa adoração. Pelo contrário, é
a oração que mais Lhe agrada, porque é aquela com que melhor O
louvamos.
«Glória ao
Pai e ao Filho e ao Espírito Santo», — é a oração ditada pelo Pai aos
Anjos, para eles cantarem junto do Presépio do Verbo feito carne:
«Glória a Deus...» «Pai Nosso, que estais no Céu...»: a oração ensinada
por Jesus Cristo à Humanidade; «Quando quiserdes orar, dizei: Pai Nosso,
que estais no Céu...». E a Ave-Maria que é senão um louvor e uma prece
dirigida a Deus? — «Ave-Maria, cheia de graça o Senhor é convosco»: Como
se disséssemos; Eu te saúdo, Maria, não por Ti mas pelo Senhor que está
contigo, pelo Senhor que em Ti habita e Te escolheu para Santuário vivo
onde encerrou o Seu Verbo, Deus e Homem verdadeiro! Ajoelho-me na Tua
presença, porque Tu és o primeiro Templo vivo habitado pela Santíssima
Trindade! Bendito é o fruto do Teu ventre, porque esse Fruto é Jesus,
Filho de Deus. Em Ti O adoro, como no Sacrário; louvo, como na Hóstia,
de que Tu és a Custódia! E já que Tu és uma custódia viva, Mãe de Deus e
Mãe nossa, roga por nós, pobres pecadores, agora e na hora da nossa
morte.
Que oração
mais Eucarística poderemos nós rezar, se lhe damos o verdadeiro sentido?
Não é rezar à toa, nem repetir em vão as mesmas palavras. O Evangelista
diz-nos que Jesus Cristo, no Jardim das Oliveiras, orou ao Pai durante
três horas, repetindo sempre as mesmas palavras; «Pai! Se é possível,
afasta de mim este cálix; mas não se faça a Minha vontade, mas a Tua».
Ora, durante
a reza do Terço, não estamos três horas repetindo as mesmas palavras.
E, afinal, Deus, Criador de tudo quanto existe, ordenou que todos os
seres criados se conservem mediate uma repetição contínua dos mesmos
actos, movimentos e sons: Os astros giram sempre do mesmo modo; a terra
em volta do mesmo eixo; o sol incide a sua luz e os seus raios do mesmo
modo; as plantas brotam, dão flores e frutos, cada uma segundo a sua
espécie, todos os anos do mesmo modo, etc.; e assim todos os mais seres
que existem. Nós mesmos vivemos, respiramos e aspiramos, repetindo
sempre o mesmo funcionamento orgânico. E assim tudo o mais. E a ninguém
se lhe ocorreu ainda dizer que é uma maneira de viver antiquada! Porque
então o há-de ser a oração que Deus nos ensinou e tanto nos tem
recomendado?!
É fácil de
ver aqui o ardil do demónio e dos seus sequazes, que querem afastar as
almas de Deus, afastando-as da oração. É na oração que as almas se
encontram com Deus, e é nesse encontro que Deus se dá às almas,
comunicando-lhes as suas graças, as suas luzes e os seus dons. Por isso
lhe fazem tanta guerra! Não se deixe enganar. Elucide as almas que lhe
estão confiadas, e reze com elas o Terço, todos os dias; reze-o na
igreja, nas ruas, nos caminhos e nas praças. Se lhe for possível,
percorra as ruas, rezando e cantando o Terço com o povo; e termine, na
igreja, dando a bênção com o Santíssimo. Isto, em espírito de oração e
penitência, pedindo a paz para a Igreja, para as nossas Províncias
Ultramarinas e para o mundo.
Estou certa
de que, se fizer um apelo assim nesse sentido, as almas seguem-no e vão
de boa vontade, porque as ovelhas seguem o seu pastor, quando ele as
sabe guiar e conduzir pelo bom caminho.
P.S. —
Suponho que tem conhecimento de que, ainda há pouco, o Santo Padre
concedeu indulgência plenária a todos que rezarem o Terço diante do
Santíssimo.
Irmã Lúcia do Coração Imaculado (4-4-1970)
Irmã Lúcia fala com o Padre Fuentes sobre o Terço
Com respeito
ao Santo Rosário, Irmã Lúcia, falando com o Padre Fuentes na entrevista
(autentica) de 26 de Dezembro de 1957, disse:
“Olhe,
Senhor Padre, a Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos,
deu uma nova eficácia à oração do Santo Rosário. De tal maneira que
agora não há problema, por mais difícil que seja, seja temporal ou,
sobretudo, espiritual – que se refira à vida pessoal de cada um de nós;
ou à vida das nossas famílias, sejam as famílias do mundo sejam as
Comunidades Religiosas; ou à vida dos povos e das nações –, não há
problema, repito, por mais difícil que seja, que não possamos resolver
agora com a oração do Santo Rosário.
“Com o Santo Rosário nos salvaremos, nos santificaremos, consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.”
---
Fonte: Fatima.org
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